O Comportamento de Orbiting nos Relacionamentos Modernos: Uma Reflexão Sobre as Dinâmicas Digitais


Com o aumento do uso de redes sociais, surgiram novos comportamentos e termos para descrever as dinâmicas dos relacionamentos modernos. Entre eles, destaca-se o “orbiting”, um fenômeno no qual uma pessoa, após encerrar um relacionamento ou contato direto, continua presente de forma passiva na vida digital da outra. Esse comportamento, ainda que sutil, pode ter impactos emocionais significativos. Este artigo busca explorar o conceito de orbiting, suas possíveis motivações e implicações psicológicas, com base em estudos recentes e reflexões teóricas.
Definição e Características do Orbiting
O termo "orbiting" foi cunhado por Anna Iovine, em um artigo publicado no site Man Repeller, em 2018. Ela descreve o comportamento como “a prática de cortar o contato direto com alguém, mas continuar presente em sua vida através das redes sociais”. Isso inclui a visualização de stories, curtidas em posts ou outras interações digitais superficiais (Iovine, 2018).
Esse comportamento é ambíguo por natureza, pois transmite sinais confusos. Por um lado, a pessoa que orbita demonstra interesse ao manter sua presença; por outro, evita um envolvimento significativo ou comunicação direta.
Motivações para o Orbiting
Pesquisas indicam que o orbiting pode estar relacionado a fatores como curiosidade, insegurança emocional ou desejo de controle. Segundo LeFebvre (2017), em um estudo sobre comportamentos pós-término, a monitoração das redes sociais de ex-parceiros é uma prática comum, associada à dificuldade em aceitar o fim do relacionamento ou à tentativa de manter uma conexão, mesmo que superficial.
Outro aspecto apontado por Koessler et al. (2019) é o impacto do narcisismo nas interações digitais. Indivíduos com traços narcisistas podem usar o orbiting como uma forma de validar seu ego, mantendo o outro "em espera" ou demonstrando poder sobre a dinâmica relacional.
Impactos Psicológicos do Orbiting
O orbiting pode gerar confusão emocional na pessoa "orbitada", que frequentemente interpreta esse comportamento como um sinal de interesse ou ambivalência. Isso pode dificultar o encerramento emocional de relações, prejudicando o processo de superação (Koessler et al., 2019).
Ademais, a presença constante e passiva nas redes sociais pode ser percebida como uma forma de "ghosting prolongado", em que o outro evita o contato direto mas não desaparece completamente. De acordo com Tokunaga (2011), comportamentos digitais ambíguos podem exacerbar sentimentos de rejeição e baixa autoestima.
Possíveis Intervenções e Reflexões
Para lidar com os efeitos do orbiting, especialistas sugerem algumas estratégias:
Estabelecimento de limites digitais: silenciar ou bloquear o orbitador pode ser uma forma de retomar o controle emocional (Tokunaga, 2011).
Foco no autocuidado: práticas de autocuidado e fortalecimento emocional são essenciais para superar os impactos psicológicos.
Promoção de uma comunicação clara: em casos onde ainda há abertura para diálogo, buscar esclarecer as intenções por trás do comportamento pode reduzir a confusão emocional.
Ponto de vista:
O orbiting é um fenômeno típico dos relacionamentos modernos, refletindo as dinâmicas digitais e as complexidades emocionais associadas a elas. Entender as motivações e os impactos desse comportamento pode ajudar indivíduos a lidar melhor com suas conseqüências e promover relações mais saudáveis no contexto digital.
Referências
Iovine, A. (2018). "Stop orbiting me: Why staying digitally connected to someone you’re no longer dating is the new ghosting." Man Repeller. Disponível em: manrepeller.com
Koessler, F., et al. (2019). "Digital footprints of relationships: Social media behaviors after breakups." Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking.
LeFebvre, L. E. (2017). "Ghosting and orbiting: Unpacking modern break-up behaviors." Journal of Social and Personal Relationships.
Tokunaga, R. S. (2011). "Social networking site or social surveillance site? Understanding the use of interpersonal electronic surveillance in romantic relationships." Computers in Human Behavior.