Limerência: Quando o Amor Se Torna uma Obsessão


A experiência de se apaixonar é uma das mais intensas na vida humana. No entanto, em alguns casos, o que parece ser amor pode, na verdade, se tratar de limerência — um estado obsessivo e idealizado que frequentemente é confundido com sentimentos genuínos de conexão emocional. Neste artigo, exploramos o que é a limerência, como ela se manifesta, as diferenças entre limerência e amor saudável, e como lidar com essa condição.
O Que é Limerência?
O termo "limerência" foi cunhado pela psicóloga Dorothy Tennov em 1979 para descrever um estado emocional caracterizado por intensa paixão e obsessão por outra pessoa. Esse estado inclui:
Pensamentos intrusivos constantes sobre o objeto de desejo;
Idealização da pessoa, ignorando seus defeitos;
Necessidade de reciprocidade como fonte de validação;
Sintomas físicos como ansiedade, euforia ou insônia ao pensar na pessoa.
De acordo com Fisher (2004), a neuroquímica envolvida nesse processo é semelhante ao que ocorre em dependências químicas. A dopamina e a norepinefrina desempenham um papel fundamental, criando um ciclo de recompensa e frustração que alimenta a obsessão.
Sinais de Limerência
Foco Excessivo: A pessoa que experimenta limerência tem dificuldade em se concentrar em outras áreas da vida, pois seus pensamentos estão dominados pelo objeto de sua obsessão.
Idealização Extrema: O foco está apenas nas qualidades positivas da outra pessoa, criando uma imagem idealizada e irreal.
Necessidade de Resposta: A felicidade ou a autoestima da pessoa parece depender exclusivamente da reciprocidade do outro.
Oscilação Emocional: Sentimentos intensos de euforia com sinais de reciprocidade ou interações positivas, seguidos por desesperança em situações de distanciamento ou rejeição.
Limerência vs. Amor Saudável
Embora a limerência muitas vezes seja confundida com amor, há diferenças importantes:
Amor Saudável: Baseia-se em reciprocidade, respeito e um senso de individualidade. Existe preocupação genuína pelo bem-estar do outro.
Limerência: Envolve dependência emocional, idealização excessiva e falta de equilíbrio emocional.
Como explica Perel (2006), o amor saudável permite espaço para a autonomia e o crescimento mútuo, enquanto a limerência frequentemente se torna um ciclo desgastante de altos e baixos emocionais.
O Que Causa a Limerência?
Fatores que podem contribuir para a limerência incluem:
Baixa Autoestima: A busca por validação através do outro pode ser um reflexo de inseguranças internas.
Traumas Passados: Experiências de abandono ou rejeição podem predispor uma pessoa à limerência.
Neuroquímica: Durante a limerência, substâncias como dopamina e norepinefrina são liberadas, criando uma sensação de prazer e recompensas intensas associadas à pessoa desejada.
Como Lidar com a Limerência
Autoconsciência: Reconheça os padrões obsessivos em seus pensamentos e comportamentos. Pergunte-se se esses sentimentos são baseados em uma conexão real ou em uma idealização do outro.
Desenvolva sua Autoestima: Invista em atividades que promovam seu crescimento pessoal e que não estejam relacionadas à pessoa em questão. Isso ajuda a reduzir a dependência emocional.
Estabeleça Limites: Se a relação está causando sofrimento, considere limitar o contato ou buscar ajuda profissional.
Terapia: A psicoterapia pode ajudar a identificar as causas subjacentes e desenvolver estratégias para quebrar o ciclo de dependência emocional. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é especialmente eficaz nesse processo.
Ponto de Vista:
Entender a limerência é um passo importante para distinguir entre sentimentos obsessivos e um amor verdadeiramente saudável. Ao reconhecer os sinais e buscar maneiras de lidar com esse estado emocional, é possível recuperar o equilíbrio emocional e construir relacionamentos mais saudáveis e gratificantes. Como aponta Tennov (1979), a consciência sobre a limerência é o primeiro passo para superá-la e abrir caminho para conexões autênticas.
Referências
Tennov, D. (1979). Love and Limerence: The Experience of Being in Love. Scarborough House.
Fisher, H. E. (2004). Why We Love: The Nature and Chemistry of Romantic Love. Henry Holt and Company.
Perel, E. (2006). Mating in Captivity: Unlocking Erotic Intelligence. Harper.