Acordos nos relacionamentos, uma forma adulta de estabelecer limites e alinhar expectativas


Quando não há acordos explícitos em uma relação, ou seja, quando os aspectos importantes do relacionamento não são discutidos de maneira aberta e consciente, as pessoas acabam recorrendo a acordos implícitos. Esses acordos não são formalmente negociados ou verbalizados, mas são entendidos ou assumidos de maneira tácita por ambas as partes. Esses acordos implícitos partem de um grande acordo criado pela sociedade de forma padrão, não respeitando as crenças, hábitos, valores e perspectiva dos envolvidos, sejam eles pertencentes a uma relação monogâmica ou não-monogâmica.
Trabalhar os acordos nas relações afetivas é um processo fundamental para garantir que ambos os parceiros se sintam respeitados, ouvidos e satisfeitos nas suas necessidades. Acordos, em um relacionamento, não se referem apenas a regras explícitas, mas também a entendimentos mútuos sobre como os dois irão agir, se comunicar e lidar com as diferenças. Aqui estão algumas dicas para trabalhar os acordos de maneira eficaz:
1. Compreensão e Diálogo
O ponto de partida é a comunicação aberta e sincera. É importante que ambos os parceiros expressem suas necessidades, expectativas e limites de forma clara. Isso envolve escutar sem julgamentos e tentar entender o ponto de vista do outro.
Dica prática: Durante uma conversa, evite acusações ou julgamentos e utilize frases como "Eu sinto que..." ou "Eu preciso de...". Isso ajuda a criar um espaço seguro e não defensivo.
2. Estabelecer Acordos Claros e Realistas
Acordos precisam ser específicos e alcançáveis. O ideal é definir não só o que será feito, mas também o como, o quando e o porquê. Por exemplo, se a questão for a divisão das tarefas domésticas, o acordo deve especificar quem faz o quê, quando e qual a frequência.
Dica prática: Quando formos estabelecer um acordo, tente ser o mais detalhado possível, como: "Eu vou ajudar a lavar a louça após o jantar, todos os dias da semana, exceto nos finais de semana, porque..."
3. Flexibilidade e Revisão Periódica
A vida e as circunstâncias mudam, e os acordos também podem precisar ser ajustados. Ter a flexibilidade para revisar e adaptar os acordos com o tempo é essencial para que a relação se mantenha saudável e dinâmica.
Dica prática: Marque um momento, a cada 3 ou 6 meses, para revisar os acordos que foram feitos, para garantir que ambos ainda estão confortáveis e satisfeitos com os arranjos.
4. Respeito aos Limites e Necessidades Individuais
Acordos em um relacionamento também devem ser respeitosos dos limites e necessidades de cada um. Isso significa que é importante não apenas estabelecer o que se espera do outro, mas também ser flexível e compreender as limitações pessoais.
Dica prática: Pergunte ao seu parceiro regularmente: "Há algo que eu possa fazer para te apoiar mais ou melhorar nossa convivência?"
5. Negociação e Compromisso
Nem sempre será possível que ambos obtenham exatamente o que querem. A negociação saudável é fundamental para que o relacionamento funcione. Isso significa que, em alguns casos, você pode precisar abrir mão de algo ou encontrar um meio-termo.
Dica prática: Se surgirem desacordos, tente sempre procurar uma solução que beneficie os dois, ao invés de tentar "vencer" o outro.
6. Acordos Emocionais e Afetivos
Além de acordos práticos (como tarefas domésticas ou planos financeiros), é importante também estabelecer acordos emocionais. Isso envolve, por exemplo, a maneira como lidam com conflitos, como demonstram afeto ou como respeitam os espaços de cada um.
Dica prática: Estabeleça, por exemplo, a necessidade de uma "pausa" em momentos de conflito, para que ambos possam refletir antes de continuar a conversa.
7. Acordos sobre a Liberdade Individual
Em um relacionamento saudável, ambos os parceiros devem sentir que podem ser eles mesmos e que têm a liberdade de manter suas identidades e interesses pessoais. Acordos sobre liberdade e espaço pessoal são cruciais.
Dica prática: Respeitar o tempo de cada um para hobbies, amizades e atividades individuais, sem sentimentos de posse ou cobrança excessiva.
8. Manter a Confiança
A confiança é um dos pilares dos acordos em um relacionamento. Ambos precisam se sentir seguros de que o outro está comprometido com o que foi combinado e que as promessas feitas serão cumpridas.
Dica prática: Cumprir o que foi prometido e ser transparente sobre qualquer mudança de planos ou dificuldades que possam surgir.
Exemplos de Acordos em Relações Afetivas
Comportamento em público e privado: Como se comportar em situações sociais, como apresentar o parceiro(a) para amigos e família, e discutir expectativas sobre o relacionamento com outras pessoas.
Como lidar com conflitos: O que fazer quando um desentendimento acontece (por exemplo, "não vamos gritar um com o outro" ou "vamos conversar até resolver").
Tempo de qualidade: Combinar como passar tempo juntos, seja em atividades especiais ou na rotina diária.
Fidelidade: conversar sobre o que se considera infidelidade, para algumas pessoas uma curtida nas redes sociais já é considerado falta grave.
comportamento sexual: Falar sobre os desejos, o que gosta e ate onde vai seus limites cria um alinhamento que minimiza demais futuras insatisfações
Filhos: falar sobre expectativas de paternidade/maternidade também é importante, este assunto se torna cada vez mais relevante pois paternidade/maternidade não é uma obrigação social.
Adicionais para relacionamentos não monogâmicos
Além dos acordos citados acima que são aplicáveis a todos os relacionamentos, dentro dos acordos não monogamicos abre espaço para outros acordos.
Clareza no formato: qual o formato mais se encaixa para as parcerias (relacionamento aberto, poliamor etc...
quais tipos de vínculos serão permitidos: se os vínculos serão sexuais, românticos, se seguem hierarquia etc..
restrições: se vocês irão definir alguma restrição para os vínculos
como encarar a sociedade: se todos estão de acordo com a exposição social
Acordos nas relações afetivas devem ser construídos com empatia, respeito e uma comunicação clara. São um meio de criar um relacionamento saudável, onde ambos os parceiros podem crescer juntos, mas também se manter como indivíduos respeitados e ouvidos.
