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A Teoria do Apego: entendendo o passado para viver melhor os relacionamentos no presente

Graziela Vasconcelos

3/27/20254 min ler

Você já se pegou pensando por que algumas pessoas parecem tão seguras e tranquilas em seus relacionamentos, enquanto outras vivem com medo de serem abandonadas ou simplesmente fogem do compromisso quando o afeto começa a crescer?
Pois é, isso não acontece por acaso.

Existe uma teoria da psicologia que ajuda a entender profundamente esses comportamentos: a Teoria do Apego. Conhecer mais sobre ela pode ser uma virada de chave para quem quer se relacionar de maneira mais saudável – com o outro e consigo mesmo.

De onde veio essa tal Teoria do Apego?

A Teoria do Apego nasceu nos anos 1950, pelas mãos do psiquiatra e psicanalista britânico John Bowlby. Observando crianças separadas dos pais durante a Segunda Guerra Mundial, ele percebeu que os primeiros vínculos afetivos moldavam não só o comportamento infantil, mas também a forma como nos relacionamos ao longo da vida.

Mais tarde, Mary Ainsworth, psicóloga americana e parceira de pesquisas de Bowlby, ajudou a consolidar e aprofundar a teoria. Juntos, eles mostraram como o cuidado (ou a falta dele) que recebemos nos primeiros anos de vida influencia nosso estilo de apego.

Os estilos de apego

Segundo a teoria, existem quatro estilos principais de apego:

1. Apego seguro

Pessoas com apego seguro cresceram com cuidadores disponíveis, que acolhiam suas emoções e necessidades. Como resultado, tendem a confiar nos outros, expressar o que sentem com clareza e construir vínculos saudáveis, com equilíbrio entre independência e intimidade.

No amor, são aquelas pessoas que se sentem confortáveis em dar e receber afeto, e que sabem conversar quando algo não vai bem. Não têm medo da proximidade nem da autonomia.

2. Apego ansioso (ou ambivalente)

Aqui, os cuidadores foram inconsistentes: às vezes presentes, às vezes distantes. O resultado? Adultos que têm medo de serem abandonados, sentem muita insegurança nos relacionamentos e, muitas vezes, interpretam qualquer demora ou silêncio como sinal de rejeição.

Podem se mostrar carentes, hiperdisponíveis, ou viver em função da relação, com dificuldade de estabelecer limites.
Frases comuns: "Acho que sou intenso demais", ou "Amo mais do que sou amado(a)".

3. Apego evitativo

Essas pessoas cresceram em ambientes onde demonstrar emoções não era bem-visto, ou onde não houve espaço para a vulnerabilidade. O resultado é uma certa resistência à intimidade emocional.

Adultos com apego evitativo tendem a fugir de envolvimentos mais profundos, preferem manter o controle e se sentem sufocados com muita proximidade.
Costumam dizer que "relacionamento dá muito trabalho" ou que "se apaixonar é perder o foco".

4. Apego desorganizado

Esse estilo é mais raro e geralmente está relacionado a traumas graves. Pessoas com apego desorganizado vivem uma mistura de medo e desejo de intimidade. Podem alternar entre aproximação e afastamento, e os relacionamentos são vividos com muita instabilidade.

São pessoas que, muitas vezes, amam e temem ao mesmo tempo. E vivem se perguntando: “Por que nunca dá certo comigo?”

Por que entender isso muda tudo?

A forma como nos apegamos (ou evitamos o apego) afeta diretamente nossa vida amorosa, mas também impacta amizades, relações familiares e até profissionais.

Saber qual é o seu estilo de apego ajuda a identificar padrões repetitivos, aquelas histórias que parecem que mudam de nome, mas seguem o mesmo roteiro.

E não se trata de culpar pai e mãe – não mesmo. O ponto é compreender a origem, ganhar consciência, e com isso, criar a possibilidade de agir de maneira diferente. Afinal, apego não é destino. É ponto de partida.

Como transformar o estilo de apego?

A boa notícia é que os estilos de apego não são uma sentença perpétua. Eles são moldados pelas primeiras experiências, sim, mas também podem ser transformados ao longo da vida – principalmente através de relações seguras e da psicoterapia.

Aqui vão algumas atitudes que ajudam nesse processo:

1. Reconhecer seus padrões

Observe como você reage quando se sente ameaçado em uma relação. Você se fecha? Fica ansioso? Precisa de resposta imediata? O autoconhecimento é o primeiro passo.

2. Cultivar a autorresponsabilidade

Reconhecer que seus sentimentos e reações dizem mais sobre você do que sobre o outro pode te ajudar a sair do modo automático e construir relações mais conscientes.

3. Praticar a comunicação aberta

Falar sobre o que sente e precisa, sem acusar ou cobrar, é um exercício constante para quem quer desenvolver vínculos seguros.

4. Buscar ajuda profissional

A terapia pode ser um espaço seguro para ressignificar experiências antigas e desenvolver novas formas de se relacionar consigo e com os outros.

O impacto da teoria do apego nos relacionamentos amorosos

Relacionamentos são encontros entre histórias. E muitas dessas histórias começam na infância.

Entender o seu estilo de apego (e o do outro) não é receita para nunca mais brigar ou sofrer, mas ajuda a trazer mais empatia, mais compaixão e mais consciência sobre o que está em jogo.

Às vezes, o que parece desinteresse é, na verdade, medo. E o que parece carência, é só um pedido desesperado por segurança.

Um convite à gentileza

Conhecer a teoria do apego é como acender uma luz num cômodo que sempre esteve meio escuro. Você enxerga melhor, tropeça menos, e até consegue ajudar o outro a encontrar a porta quando ele também estiver perdido.

No fim das contas, entender sobre apego é aprender sobre como amamos e como queremos ser amados. E isso pode mudar tudo.

“O que começou como uma necessidade infantil de proteção torna-se um modelo interno para como os adultos abordam a intimidade e o cuidado.”
Sue Johnson, psicóloga e autora da Terapia Focada nas Emoções

Referências:

  • Bowlby, J. (1989). Apego: A Natureza do Vínculo. Martins Fontes.

  • Ainsworth, M. D. S., Blehar, M. C., Waters, E., & Wall, S. (2015). Patterns of Attachment: A Psychological Study of the Strange Situation. Psychology Press.

  • Johnson, S. (2019). Hold Me Tight: Seven Conversations for a Lifetime of Love. Little, Brown Spark.

  • Levine, A., & Heller, R. (2010). Attached: The New Science of Adult Attachment and How It Can Help You Find – and Keep – Love. TarcherPerigee.